domingo, 25 de janeiro de 2009

Vendo Crescer as Flores

“AFAGAR A TERRA
CONHECER OS DESEJOS
DA TERRA, A PROPÍCIA
ESTAÇÃO E FECUNDAR
O CHÃO"
(CHICO BUARQUE)


A manhã parecia compartilhar da sua alegria, havia algo de "manhã de carnaval" pairando no ar e ele estava ali esparramado pelo chão vendo crescer as flores que cresciam em direção ao sol - girassóis -. O vinho escorria pela torneira aberta, como se fosse água, o sol filtrava seus pensamentos que vacilavam entre terra e céu. Lá fora a vida continuava, os pedestres corriam dos carros, os fracos corriam dos fortes, os operários largavam as máquinas ao som da sirene e pegavam as marmitas, os ônibus estavam cheios e os pingentes não tinham tempo de saber que era primavera e ele estava lá, esparramado pelo chão, vendo crescer as flores. Quando sua mulher chegou e o viu esparramado pelo chão, sujo de terra, fruto da terra, acariciou-lhe o rosto, contou-lhe do filho que viria, da esperança na vida e do amor que havia em seu coração. Ficaram ali, se amando, os corpos seminus rolando pela terra, o suor dos corpos regando as flores e os movimentos suaves das mãos sobre os corpos arrancavam as ervas daninhas do jardim, o vai e vem das pernas cavavam buracos e os tapavam simultaneamente. Os corpos davam sombras às sementes e deixavam filtrar um raio de sol entre um e outro "ai", o murmúrio dito ao pé do ouvido - meu amor, eu te amo, eu te quero, me abraça -, eram conversas com as flores que tremiam de alegria ou do sopro do vento. A boca que se abria para um grito era sufocada pôr um beijo demorado e suave, o sol queimava as costas que faziam um rodízio durante o embalo do amor. Os girassóis os cobriram durante o gozo e eles ficaram ali, esparramados, relaxados, vendo crescer o filho.

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