sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Natal

Aos poucos, a imagem de mamãe vindo do fim da rua, carregando um galho seco de árvore na cabeça e uma lata de banha vazia na mão, vai penetrando nas minhas retinas e clareando a minha visão, Eu e meus irmãos, corremos ao seu encontro e curiosos a rodeamos com perguntas:

- Mãe, para que este galho?

- E esta lata?

Ao tentarmos ajudá-la, o que deveria ser respostas às nossas indagações tornavam-se lembretes:

- Cuidado! Não deixe a lata amassar, não quebre o galho da árvore.

Ao chegarmos em casa o mistério aos poucos era desvendado, uma caixa de algodão, uma folha de papel...

A folha de papel cobria a lata, e o galho seco era plantado na lata cheia de areia; o algodão cobria de branco cada pedaço do galho...

Era Natal!

A caixa de papelão descia do armário e de dentro surgia maravilhas, para enfeitar a árvore; Bolas vermelhas, brilhantes, que refletiam a imagem cuidadosa de mamãe; eram tão sensíveis estas bolas, que quase sempre uma se quebrava. Minha irmã mais velha ajudava tirando de dentro da caixa os enfeites que mamãe ia colocando na árvore: Anjos de barro, figuras recordadas em papel, e um barbante colorido que ia de galho em galho entrelaçando a nossa alegria.

Papai ficava sentado na poltrona e nós que não podíamos ajudar, para não atrapalhar, ficávamos à sua volta observando surgir do galho seco, a nossa bela Árvore de Natal; Mamãe para finalizar, jogava uns papeizinhos dourados picados por sobre a árvore e para brincar, jogava também na barba de papai que sorria e nos abraça de uma só vez.

Depois da árvore, era a vez do presépio. Minha irmã tinha a função de montar o presépio, a cada sete anos era uma das irmãs que montava o presépio. Antes era mamãe que montava. As peças vieram da casa de vovó, depois que ele morreu. Um saco de linhagem, tingido de cinza e passado pó de pedra, era colocado na lareira, formando uma gruta.

Do lado de fora, um espelho coberto com um pouco de areia nas laterais, era colocado no chão, fazendo de conta que era um lago de água límpida, que espelhava os patinhos de barro que minha irmã colocava cuidadosamente sobre o espelho.

Pedras que eram estrategicamente colocadas para segurar o papel nos pareciam montanhas das estradas, por onde José e Maria passaram.

Da velha caixa de papelão ia surgindo as imagens feitas de rezina: José, Maria, a manjedoura, os três reis magos, carneirinhos, vaquinhas, burrinhos, um galo e finalmente aquela grande estrela de lata feita por papai há muito tempo!

O menino Jesus, só era colocado na noite da véspera de natal. Minha mãe colocava uma grande vela perto do presépio, e à meia noite, nos reuníamos para rezar. 

Hoje, sou eu que colho o galho seco, planto em uma lata de banha, enrolo cada pedaço de algodão por toda a sua extensão, retiro os enfeites da caixa de papelão, enfeito a árvore, monto o presépio com as mesmas peças que eu retiro da mesma caixa, guardada há anos e fico aqui admirando a minha solidão nesta noite de natal.



terça-feira, 30 de setembro de 2014

BODAS DE DIAMANTE



O casamento lhes rendeu filhas e cidades. Do filho não é bom lembrar. Educar filhas e construir cidades.

Tijolo, cimento e amor.

Sandra, Carla e Cláudia.

Brasília, Serro, Congonhas, Vitória e Betim.

A aridez das cidades muitas vezes fez o casamento árido, mas as luzes das cidades também fizeram brilhar muitos momentos de amor.

A gente vai se arquitetando e construindo melhor as cidades e os filhos. E a vida vai se amansando...

E vem os netos. Ah! os netos! Os construtores de lar e cidades ganham uma nova denominação: Avô e Avó.

Rodrigo e Michelle

Hora de ensinar a gostar e de cuidar dos passarinhos: Canarinho, Sabiá, Pretinho, Coleirinha e tantos outros que na primavera se reproduzem...

Assim como os netos, que se reproduzem em bisnetos e enchem a casa de música como no princípio.

Flauta, cavaquinho, bandolim, violão, pandeiro.

Os mesmos instrumentos que construíram as cidades e educaram as filhas: pá, enxada, metro, trena... formão, serra

Agora constroem brinquedos.

Isabelle, Pedro e João

E a vida vai girando como uma roda gigante, fazendo tudo voltar ao mesmo lugar.

Tijolo, massa, tijolo.

Sopinha, carinho, livro.

E música, muita música nesta história de muitos anos.

É uma pena que eu não esteja aí com vocês para cantar esta alegria de tantos anos.

A culpa é de vocês, com tudo isso eu aprendi a gostar de visitar as cidades.



Deus abençoe vocês.