domingo, 27 de março de 2011

Composição II


Vendo esta foto que foi muito veiculada por ocasião da tragédia no Japão os meus sentimentos turbilharam. A maioria dos comentários que ouvi foi: “Parece brinquedo...”.

Em alguns evangelhos apócrifos que tratam da infância de Jesus, há relatos de Jesus como um menino comum, com poderes de DEUS e as travessuras de criança.

Em um trecho do seu livro: “Historia de Maria, Mãe e Apóstola de seu Filho, nos evangelhos Apócrifos” (Editora Vozes,2006) O professor Jacir de Freitas Faria, relata: Maria chama a atenção de Jesus por ter matado um menino. Veja o texto.

O Pseudo-Evangelho de Mateus 26,1-3 conta que, quando Jesus tinha quatro anos de idade, ele estava brincando com outras crianças, em um dia de sábado. Jesus foi sentar-se e fez sete lagoinhas de barro interligadas por pequenos canais, por meio dos quais, à sua ordem, a água corria da torrente para as lagoinhas e voltava novamente. Outro menino, filho do diabo, repleto de inveja fechou a comporta que controlava a entrada da água e acabou com aquilo que Jesus fizera. Jesus lhe disse: Ai de ti, filho da morte, filho de Satanás! Tu destruíste a obra que fiz? ' E imediatamente o (menino) que havia feito aquilo caiu morto.

Os pais dele se revoltaram contra Maria e José, dizendo: 'Vosso filho amaldiçoou o nosso filho e ele morreu'. Quando José e Maria ouviram aquilo, foram logo ter com Jesus, por causa da revolta dos pais do menino e do ajuntamento de judeus.

José disse baixinho à Maria: “Eu não tenho coragem de falar com ele. Tu repreende-o e dize-lhe: Por que suscitaste contra nós o ódio do povo? E agora devo suportar a exasperação do povo? E aproximando-se dele sua mãe, Maria, rogava-lhe dizendo: Qual foi o crime dele para que morresse? E Jesus respondeu: merecia a morte, já que destruiu aquilo que eu tinha feito.

Sua mãe, então, lhe pediu: 'Não faças isso, meu senhor, pois todos se revoltam contra nós'. Não querendo contristar a sua mãe, com o pé direito Jesus tocou as nádegas do morto e lhe disse: 'Levanta-te, filho iníquo. Não és digno de entrar na paz de meu pai, porque destruíste obra que eu tinha feito'. Então o que tinha sido morto se levantou e foi- se embora. Jesus, entretanto, volta ao seu Jogo levando água pelo canalzinho até as lagoinhas.”



Foi pensando nestas passagens dos evangelhos apócrifos que eu encontrei justificativa para a tragédia do Japão. O menino DEUS brincando. Como brincamos com os nossos carrinhos e aviões e quando cansamos da brincadeira deixamos tudo espalhado, misturado, fora de ordem.

Foi com este sentimento de brincadeira do Menino DEUS, que eu chorei pensando no futuro da humanidade... mas como consolo, lá longe ouvi a voz de José e Maria dizendo: “Menino, limpa tudo e coloca os seus brinquedos no lugar...”.

Espero que ele obedeça.

sexta-feira, 25 de março de 2011

COMPOSIÇÃO

No século passado, quando eu estava no primário (Grupo Escolar) a professora mostrava um cartaz e pedia para a gente fazer uma composição. O cartaz normalmente mostrava uma cena que poderia ser uma paisagem ou uma cena do cotidiano, um desenho de um animal ou de um ser humano. Tínhamos que descrever, contar a história que o cartaz estava mostrando. O autor Rubem Alves aprendeu bem a lição: Tenho duas provas disso: A primeira no livro “O Médico” onde a partir do quadro “O médico” de Sir Samuel Luke Fides, ele faz uma análise filosófica e teológica da arte da medicina.


A segunda é pura imaginação minha. No livro “Ostra feliz não faz pérola” Tem uma crônica intitulada “O que a minha cadela pensa de mim”. Acredito que está seria a composição de um menino artista, ao deparar com um cartaz com a fotografia de uma cadela.



O que a minha cadela pensa de mim

Meu nome é Lola. Ê assim 'que me chamam. Quando gritam o meu nome, sei que me querem perto deles. Psicologicamente posso ser definida como um animal incapaz de mentir ou fingir. Minha alma mora na minha pele. Quando estou alegre, meu rabo abana por conta própria, independente da minha vontade. Quando a alegria é demais, dou umas mijadinhas. Quando estou triste, meu rabo e minha cabeça abaixam. Quando estou com sono, me esparramo no chão, do rabo ao focinho. Tudo se dependura: pele, orelhas, testa, olhos. Meu dono gosta de mim embora fique bravo quando eu pulo para abraça-lo e lhe dou uma lambida. O que é verdade para mim não é verdade para o meu dono. A alma dele não mora na pele. Ele mente. Ele finge. Nunca o vi dar uma mijadinha de felicidade. Talvez ele não seja suficientemente feliz para isso. Às vezes, eu estou deitada do jeito como descrevi e ele está assentado numa cadeira. Ele olha para mim de um jeito diferente. Não é alegria. Não é tranquilidade. Acho que é inveja. Ele gostaria de ser como eu sou, mas tem coragem... Está morrendo de vontade de se esparramar também no chão frio, como eu. Mas não o faz. Fico a pensar: o que o impede?Acho que é vergonha. Os homens têm vergonha uns dos outros. Sou feliz porque não tenho vergonha e faço o que quero. Talvez essa seja a razão por que os homens gostam de ter pets: porque nos pets eles projetam uma felicidade que eles mesmos não têm. Diga-me o pet que você tem e eu saberei como é a sua alma. Os pets têm uma função terapêutica. Bem, eu sou uma cadela, e tudo o que disse foi de brincadeirinha. Porque eu mesma, na realidade, me contento em ser feliz. Não gasto tempo pensando essas coisas...

segunda-feira, 14 de março de 2011

O Mais Novo Imortal

(foto publicado no EM)
Hoje ao abrir o caderno de cultura do Jornal Estado de Minas, a melhor parte do jornal, me deparei com uma matéria do Carlos Herculano sobre o mais novo membro da Academia Brasileira de Letras. Marco Américo Lucchesi.


Que alegria! Convivi com ele um rápido naco de tempo nos anos de 1987 quando ele este em BH para uma palestra. Na época eu estudava Grego na UFMG. Ele estava com 24 anos e para mim era um dos mais jovens intelectuais. Ele já sabia tudo. Tinha acabado de publicar: Patmos e outros poemas de Hölderlin. Já falava vários idiomas. Inclusive o italiano que é a minha segunda língua.

Nesta época belo horizonte respirava poesia, principalmente pela tristeza da morte de Carlos Drummond de Andrade, ele era muito amigo da família do Drummond principalmente da sua filha Maria Julieta.

Foi neste clima que apresentei para ele alguns Escritores mineiros, O que me valeu uma dedicatória em italiano no seu livro: All’amico Marcos Ramos, amico nuovo, Che m’insegna gli orizzonte letterari de belo Horizonte.

Com amicia

Do Marco Lucchesi



Na contra capa do seu livro, Carlo Drummond escreveu: “(...) Marco Lucchesi, que, sendo exegeta de Dante, merece o nosso respeito e admiração”.

Maria Julieta Drummond de Andrade escreveu: “Parabéns por haver explorado com tamanha coragem e paixão os belos enigmas de Dante. Não é fácil descer aos infernos, e você o fez com amor e audácia. Depois disso, é claro, você se purificou- e nos purificou”.



Com certeza o Marco Lucchesi não se lembrará disso. A ordem das lembranças é proporcional à importância.

E foi por isso, pela importância que tudo isso teve na minha vida, que hoje o meu dia será mais feliz. Parabéns Amigo! Agora você é imortal como todos os heróis mitológicos que tanto gostamos.

AUGURI!