sexta-feira, 15 de maio de 2020

Quarentena


Meus fantasmas estão em quarentena comigo. Às vezes eles conversam comigo nas línguas que domino. Fazem-me relembrar erros e acertos. Já não me assusto, os coloco no varal e deixo-os ao vento que brota da fresta da janela.
Assim caminho nesta quarentena, limpando os livros da estante, relendo trechos dos livros antigos, descobrindo livros que não li.
Entre romances e poesias releio a vida dos santos, meu Deus! Como é sofrido ser santo!
Vou atrás da mitologia grega, é mais interessante, heroico. Fujo das tragédias, fico apenas com o lírico, o canto da sereia.
De repente surge em minhas mãos o Dom Casmurro e eu já nem sei mais se Capitu traiu o Bentinho ou se foi só uma divagação do Alienista lendo Memórias póstuma de Brás Cubas e Capitu era a Helena.
E nestes Cem anos de Solidão (é o que parece esta quarentena) com Crônica de uma morte anunciada só fica o amor nos tempos de cólera. E Viva! Gabriel Garcia Marquez.
E Já dizia João Cabral de Melo Neto: Como aqui a morte é tanta, só é possível trabalhar nestas profissões que fazem da morte ofício ou bazar.
O resto fica em casa! Para evitar a Morte Severina.

José Marcos Ramos

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