segunda-feira, 20 de agosto de 2012

PAI


PAI
Não tive tempo de conhecer o meu pai, ele faleceu quando eu tinha 15 anos.
Não deu tempo de sentar no seu colo e chorar a dor do desencanto do primeiro amor...
 Não deu tempo dizer para ele que eu que eu o amava...
Não deu tempo de pergunta-lo qual era o sentido da vida, qual o melhor caminho para seguir...
Eu garanto que ele tinha todas as respostas, ele era sábio.
Se ele não soubesse todas as respostas, com certeza ele saberia todas as perguntas...
Não tive tempo de saber qual era a sua música preferida, qual o seu livro de cabeceira, qual a sua melhor viagem. Talvez ele gostasse de conhecer a Espanha, país da sua mãe... Talvez ele gostasse de morar em Málaga, em uma casinha branca qualquer, em que ele pudesse da janela, mirar o mediterrâneo.
Não tive tempo de dividir com ele os meus sonhos...
Não tive tempo de falar com ele que eu gostaria de conhecer a Espanha, de morar em Málaga em uma casinha branca qualquer, onde da janela eu mirrasse o Mediterrâneo, e quando eu morresse, jogassem lá as minhas cinzas.
Não tive tempo de dizer para ele que a minha cantora preferida era Elis Regina, que também morreu prematuramente, me deixando novamente órfão.
Não tive tempo de dizer para ele que quando a gente fica órfão uma vez, não tem jeito, sempre a gente fica órfão quando perde alguma coisa...
Não tive tempo de dividir com ele os meus medos, os meus anseios...
Não tive tempo de dividir, nem de somar...
Não tive tempo de me alegrar junto com ele quando me tornei pai...
Não tive tempo de dividir com ele a alegria de levar a minha filha ao altar...
Já não posso dizer para ele da minha alegria, e da expectativa de ser avô...
Não tive tempo de dividir sorrisos, gritos de gol, abraços...
Com a minha memória já fraca, só tenho lembras que crio, de um herói sem capa e espada, sem poderes mágicos...
Somente um herói, somente um pai...

ELIS VIVE EM MIM

Elis vive em mim, e renasce nas lágrimas que choro ao ouvir as canções que ela eternizou. A maior voz feminina que o Brasil já teve, encanta jovens que nasceram após a sua morte. Pude perceber isto ontem no espetáculo “Redescobrir”. Maria Rita, filha da ELIS, apresentou um espetáculo limpo, sem erros. A perfeição transitou por todo o palco: Luz, figurino, arranjos, som. Maria Rita e banda fizeram uma catarse para um público predominantemente jovem. Até o Chevrolet Hal estava bom,
Elis vive em mim, e tenho certeza que ela não morrerá. O público presente no espetáculo de ontem que cantou dançou, embalou, chorou e sorriu, também gritou isso. Elis Vive!
E Maria Rita também dançou, embalou, chorou e sorriu. Ao cantar “Arrastão”, controlou os braços para não ser comparada à mãe. Chorou ao cantar “Essa Mulher” e me fez chorar ao cantar “Tatuagem”, ou melhor, me fez chorar o tempo todo.
Elis vive em mim, e Maria Rita sabe disso, por isso ela permitiu que eu, e todo público, cantasse com ela, dançasse com ela, chorasse com ela.
Elis vive em mim, e essa catarse, me fez redescobrir uma Elis eterna, que renasce na voz da filha. Na voz da minha filha, e da minha neta que ainda vai nascer, mas que estava lá, na barriga da mãe, ouvindo as canções que tenho a pretensão de dizer, que Elis cantava pra mim.
José Marcos
20/08/2012