domingo, 25 de janeiro de 2009

Vendo Crescer as Flores

“AFAGAR A TERRA
CONHECER OS DESEJOS
DA TERRA, A PROPÍCIA
ESTAÇÃO E FECUNDAR
O CHÃO"
(CHICO BUARQUE)


A manhã parecia compartilhar da sua alegria, havia algo de "manhã de carnaval" pairando no ar e ele estava ali esparramado pelo chão vendo crescer as flores que cresciam em direção ao sol - girassóis -. O vinho escorria pela torneira aberta, como se fosse água, o sol filtrava seus pensamentos que vacilavam entre terra e céu. Lá fora a vida continuava, os pedestres corriam dos carros, os fracos corriam dos fortes, os operários largavam as máquinas ao som da sirene e pegavam as marmitas, os ônibus estavam cheios e os pingentes não tinham tempo de saber que era primavera e ele estava lá, esparramado pelo chão, vendo crescer as flores. Quando sua mulher chegou e o viu esparramado pelo chão, sujo de terra, fruto da terra, acariciou-lhe o rosto, contou-lhe do filho que viria, da esperança na vida e do amor que havia em seu coração. Ficaram ali, se amando, os corpos seminus rolando pela terra, o suor dos corpos regando as flores e os movimentos suaves das mãos sobre os corpos arrancavam as ervas daninhas do jardim, o vai e vem das pernas cavavam buracos e os tapavam simultaneamente. Os corpos davam sombras às sementes e deixavam filtrar um raio de sol entre um e outro "ai", o murmúrio dito ao pé do ouvido - meu amor, eu te amo, eu te quero, me abraça -, eram conversas com as flores que tremiam de alegria ou do sopro do vento. A boca que se abria para um grito era sufocada pôr um beijo demorado e suave, o sol queimava as costas que faziam um rodízio durante o embalo do amor. Os girassóis os cobriram durante o gozo e eles ficaram ali, esparramados, relaxados, vendo crescer o filho.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

PALESTINA

Terra prometida

O Senhor disse-lhe: "Vi a aflição do meu povo. Por isso desci para o libertar e o conduzir a uma terra onde corre o leite e o mel."

Nestes tempos em que falar de árvores é quase um crime, segue a letra e o video de uma música da Carla, que relata a situação de hoje na Palestina.

"Mulheres que choram por corpos mutilados
Que vivem sangrando manchando o chão
Por crianças que morrem definhando
Pela rosa bela que murchou na roseira
Palestina Palestina
Palestina em ruínas
Homens se matando fugindo uns dos outros
As nuvens de fumaça cobrindo o céu anil
O sorriso das crianças se tornam lamentos
Escondendo no tempo
Palestina Palestina
Palestina em ruínas...
A bala corta o vento procurando o alvo
As nuvens de fumaça cobrindo o céu anil
O sorriso das crianças se tornam lamentos
Escondendo no tempo
Palestina Palestina
Palestina em ruínas"

domingo, 18 de janeiro de 2009

Segunda sessão de cinema


Eu sou chato! Tenho certeza disto. Ultimamente tenho estado irritado ao ir ao cinema, pois o público presente parece que está na sala da casa dele assistindo TV. Não tem nenhum respeito pelo seu vizinho, o cheiro da manteiga da pipoca invade o meu nariz e me incomoda muito. O entra e sai do cinema para atender celular, os comentários em voz alta, meu Deus! Quanta coisa me irrita quando vou ao cinema. Ontem quando fomos ver SETE VIDAS, direção: Gabriele Muccino, tinha um grupo de jovens (mais ou menos quinze pessoas), armados de refrigerantes, pipocas, chicletes e tudo que eles têm direito, a sessão estava cheia e eles fizeram a maior confusão para arranjar lugares próximos uns dos outros. Pensei: Vou ter problemas para ver este filme, minha filha do meu lado diz: - já sei que aquela de blusa vermelha vai fazer mais confusão. A luz apaga, a sala não se cala, o urubu já não sai mais voando... o trailer é conturbado, mas quando o filme começa e surge na tela Will Smith, o silêncio é total. O filme conseguiu prender a atenção de todo mundo. A crítica pode falar o que quiser, eu adorei o filme, e esta turma que citei no início também gostou, pois não ouvi um só resmungo. Valeu o filme pela interpretação do Will Smith, Rosario Dawson, Woody Harrelson, Michael Ealy, Barry Pepper, Robinne Lee. A fotografia também é linda, a trilha sonora é ótima tem até Insensatez de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, cantada pela Diana Krall. Gostei.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009


CINEMA 2009
Primeiro filme do ano: “A troca”
A mãe sai para trabalhar, e quando volta o seu filho de 9 anos não esta em casa. A incansável busca pelo filho é o drama dirigido por Clint Eastwood. Angelina Jolie, até agora a minha indicação para o Oscar de melhor atriz, faz a mãe desesperada que trava uma batalha enorme com a violenta e corrupta policia de Los Angeles de 1928, que para melhorar a sua imagem; impõe-lhe um filho, no lugar do seu. O que mais me impressionou neste filme, foi a atuação do Reverendo Briegleb (John Malkovic). O pastor em seus sermões na igreja e no rádio ataca a administração policial da cidade em busca da justiça. Foi a única ajuda que a mãe recebeu. O pastor como homem de Deus lutou pela justiça. Eu gostaria muito de ver nos nossos lideres religiosos uma atitude assim de luta pela justiça aqui na terra, agora já, e não estas pregações de paz pós morte. Gostaria de ver todos os nossos lideres religiosos usando os sermões para a luta em prol da justiça, da liberdade. Vejam o filme vale a pena!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

No tempo dos quintais

Carla fez um comentário que gostaria de dividir com vocês:

Fiquei muito emocionada e feliz, por identificar aqui um pouco da minha história. Me lembrei de uma composição do Sivuca e do Paulinho Tapajós que gosto muito de cantar acompanhada pelo papai e seu choroso badolim.


terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Lembranças na parede


(Para Carla e todos os outros amados sobrinhos)

Na parede da sala havia aquele retrato em preto e branco, com moldura de gesso pintado de uma cor marrom, na foto: Papai e Mamãe jovens.
Os retratos antigos guardam lembranças, que nos salta aos olhos ao admirá-los. Tempo, tempo, tempo...
Minha filha fica triste ao ver o resultado das enchentes e desmoronamentos, quando as pessoas perdem tudo que tem, a “àgua leva tudo”. Leva as lembranças, a história, o passado.
Dá para refletir muito, quando alguém diz que deveriam dar férias coletivas aos varredores de rua na primavera, pois é triste ver pessoas varrem as flores do ipê amarelo que cobrem as nossas ruas na primavera.
Na casa da Inês tem um pé de Ipê amarelo.
No quintal da minha infância tinha um abacateiro que dava sombra ao nosso chão, além de abacates, é claro.
Na casa da Dona Melinha tinha um pé de marmelo, além do fruto, tinha também a vara.
Meu Deus! O mundo está precisando da vara de marmelo!
Finalmente recebi cópia da foto dos meus pais que ficava na parede da sala, e era emoldurada com gesso. Com a foto vieram as lembranças, as recordações, a saudade do tempo que eu tinha pais.
Minha mãe quando ia visitar as cunhadas, tia Ester, tia Divina, tia Célia, tia Filomena, ela sempre fazia um bolo, que levava para gente tomar café. O cheiro do bolo assando era prenúncio de passeio. Era bom passear de jardineira, melhor que de bonde.
Meu pai era surdo, mas era alfabetizado, então a gente escrevia bilhetes para comunicar com ele. Ele nos levava ao cinema para ver os filmes estrangeiros, por causa do letreiro. Minha mãe morreu sem aprender a ler, com ela a gente só via os filmes nacionais.
E tinha os cinemas de bairro, o São Cristovão, o Capitólio, São Carlos. E os dos centro da cidade: Brasil, Arte Palácio, Acaiaca, Metrópole, Guarani, Santa Tereza, Odeon... e tantos outros templos e templos da sétima arte e hoje “templos da salvação”.
Tenho saudades do tempo que eu não era órfão.