terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Lembranças na parede


(Para Carla e todos os outros amados sobrinhos)

Na parede da sala havia aquele retrato em preto e branco, com moldura de gesso pintado de uma cor marrom, na foto: Papai e Mamãe jovens.
Os retratos antigos guardam lembranças, que nos salta aos olhos ao admirá-los. Tempo, tempo, tempo...
Minha filha fica triste ao ver o resultado das enchentes e desmoronamentos, quando as pessoas perdem tudo que tem, a “àgua leva tudo”. Leva as lembranças, a história, o passado.
Dá para refletir muito, quando alguém diz que deveriam dar férias coletivas aos varredores de rua na primavera, pois é triste ver pessoas varrem as flores do ipê amarelo que cobrem as nossas ruas na primavera.
Na casa da Inês tem um pé de Ipê amarelo.
No quintal da minha infância tinha um abacateiro que dava sombra ao nosso chão, além de abacates, é claro.
Na casa da Dona Melinha tinha um pé de marmelo, além do fruto, tinha também a vara.
Meu Deus! O mundo está precisando da vara de marmelo!
Finalmente recebi cópia da foto dos meus pais que ficava na parede da sala, e era emoldurada com gesso. Com a foto vieram as lembranças, as recordações, a saudade do tempo que eu tinha pais.
Minha mãe quando ia visitar as cunhadas, tia Ester, tia Divina, tia Célia, tia Filomena, ela sempre fazia um bolo, que levava para gente tomar café. O cheiro do bolo assando era prenúncio de passeio. Era bom passear de jardineira, melhor que de bonde.
Meu pai era surdo, mas era alfabetizado, então a gente escrevia bilhetes para comunicar com ele. Ele nos levava ao cinema para ver os filmes estrangeiros, por causa do letreiro. Minha mãe morreu sem aprender a ler, com ela a gente só via os filmes nacionais.
E tinha os cinemas de bairro, o São Cristovão, o Capitólio, São Carlos. E os dos centro da cidade: Brasil, Arte Palácio, Acaiaca, Metrópole, Guarani, Santa Tereza, Odeon... e tantos outros templos e templos da sétima arte e hoje “templos da salvação”.
Tenho saudades do tempo que eu não era órfão.

Um comentário:

Unknown disse...

Fiquei muito emocionada e feliz, por identificar aqui um pouco da minha história. Me lembrei de uma composição do Sivuca e do Paulinho Tapajós que gosto muito de cantar acompanhada pelo papai e seu choroso badolim.

Nos tempos dos quintais

Era uma vez um tempo de pardais, de verde nos quintais
Faz muito tempo atrás, quando ainda havia fadas
No bonde havia um anjo pra guiar, outro pra dar lugar
Pra quem chegar sentar, de duvidar, de admirar.

Havia frutos num pomar qualquer, de se tirar do pé
No tempo em que os casais, podiam mais se namorar
Nos lampiões de gás, sem os ladrões atrás
Tempo em que o medo se chamou jamais.

Veio um marquês de uma terra já perdida
E era uma vez se fez dono da vida
Mandou buscar cem dúzias de avenidas
Pra expulsar de vez as margaridas
Por não ter filhos, talvez por nem gostar
Ou talvez por mania de mandar.

Só sei que enquanto houver os corações
Nem mesmo mil ladrões podem roubar canções
E deixa estar que há de voltar
O tempo dos pardais, do verde nos quintais
Tempo em que o medo se chamou jamais.

Beijos!!!!!