terça-feira, 29 de julho de 2008

MACUNAÍMA



Não sei quando li pela primeira vez o livro de Mário de Andrade, o que sei é que me apaixonei, Eta! Livrinho complicado, meu DEUS! Li e reli várias vezes por prazer. Foram poucos os livros que eu li mais de uma vez. Tinha época que eu lia trechos em voz alta para minha filha, tentando fazê-la dormir. Depois veio o filme de Joaquim Pedro de Andrade em 1969. Grande Otelo personificou para mim o herói sem nenhum caráter. Não consigo pensar em Macunaíma sem lembra do Grande Otelo. Em 1975 o nosso herói virou samba enredo (David Corrêa e Norival Reis) da nossa querida Portela, que maravilhosamente mostrou na avenida toda a irreverência do nosso herói, ficando classificada em quinto lugar, mas deixando todo mundo cantando o seu samba enredo. Depois a nossa Saudosa Clara Nunes imortalizou-o em uma versão incrível. Em 1978, Antunes Filho monta a peça Macunaíma, com a Companhia Paulista de Teatro (CPT). Lembro-me direitinho que quando a peça estreou aqui no Palácio das Artes, eu estava conversando com o saudoso Henry Corrêa de Araújo (leia-se Pivete), enquanto esperávamos o início do espetáculo, e comentávamos como seria a adaptação do Antunes para esta obra tão rica já que o Joaquim Pedro, no filme, fez da piscina do Copacabana Palace o caldeirão da feijoada do gigante e colocou como ingrediente a Dona Risoleta Neves, entre outras personalidades. A minha surpresa foi geral, Antunes numa linguagem nova nos apresentou um Macunaíma genuíno envolto em folhas de jornal. “Criando uma peça muito baseada no efeito de improvisação, em que as imagens vistas ganham tanta importância quanto o texto narrativo”.
Anos depois num destes natais, Inês me presenteou com uma edição de Macunaíma ricamente luxuosa da Editora Itatiaia, com capa e reproduções de óleos da artista amazonense Rita Loureiro.
Dizem-me agora que Macunaíma completa 80 anos, (foi lançado em 1928), sem festa, sem uma exposição grandiosa no museu da palavra, sem uma edição comemorativa... “aí que preguiça...”

sábado, 19 de julho de 2008

À NOITE NÃO HAVERÁ LUAR


Eles chegavam pela madrugada, depois que já tínhamos deitado e já estávamos dormindo, ficavam chorando pelo pátio, amavam-se por sobre os telhados e gritavam no momento do gozo, como se fossem crianças abandonadas, um grito fino, sustenido, que penetrava em nossa alma e perturbava o nosso sono burguês. não, não era um grito, era um lamento, um lamento profundo que nos fazia lembrar os lamentos dos negros nos cativeiros, dos presos nos porões dos prédios públicos. Os gritos que eram lamentos, nos pareciam urros e gritos de socorro, gritos de liberdade que iam de encontro a lua -eles vinham sempre em noites de luar- e refletiam em nós, censores, como gritos de revolta, subversão. Acendíamos as luzes, jogávamos pedras e eles fugiam para voltar assim que estivéssemos dormindo. À noite passada, eles voltaram com um canto novo. Canto? Grito? Canto-grito? Um grito que mostrou a nossa fraqueza, a nossa pobreza interna, a nossa mesquinhez, a nossa comodidade; e como este novo grito tirou o nosso sono e perturbou o nosso bem estar (tirou o nosso sono porque este novo grito era mais parecido com um lamento de quem está sendo oprimido, de quem esta com fome e com frio, era mais um pedido para que os acolhêssemos que um grito de revolta), abrimos a porta e os assustamos com pedras e sapatos, eles fugiram deixando o nosso sono burguês se transladar para a nossa cama colonial.
Conversamos com os nossos vizinhos pela manha e fizemos planos, planejamos estratégias, táticas e atacamos. à noite, quando eles vieram (dos lamentos que infernizavam as nossas noites estes eram os piores), não faltou nada, disseram que já estavam cansados de serem oprimidos e de terem que passar as noites fora de casa, de sentir frio, de não terem uma boa alimentação, falaram de revolta, rebelião. Esta noite lhes abrimos a porta, a lua estava em um dos seus melhores dias, clareava o nosso jardim. eles eram muitos, alguns passeavam pelo pátio, outros estavam deitados com as suas companheiras, outros andavam pelo telhado olhando a lua, outros apenas olhavam uma estrela cadente. Executamos o nosso plano, lhes servimos um jantar de iguarias recheadas com arsênico, sugestão de um velho vizinho, lhes prometemos liberdades democráticas e voltamos para o nosso sono burguês. Pela manhã, quando acordamos, pudemos contar uns trinta gatos mortos, espalhados pelo telhado e pelo chão. À noite certamente não haverá luar.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

OS TRIGÊMEOS


Se eu me lembro bem, fui alfabetizado com aquele pré-livro dos Três Porquinhos de Lucia Casasanta: (Palito, Palhaço e Pedrito). Depois no catecismo veio a Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), os três reis magos (Baltazar, Belchior, e Gaspar), os três pastorinhos (Lúcia, Francisco e Jacinta). Mais tarde, os três sobrinhos do Pato Donald (Huguinho, Zezinho e Luizinho), os Três Mosqueteiros (Athos, Porthos e Aramis). As três Marias, a regra de três, os três apitos, os três poderes, os três Tenores (Plácido Domingo, José Carreras e Luciano Pavarotti). E de repente para completar esta trilogia que sempre alegrou a minha vida, surgem os trigêmeos: Cássio, Guilherme e o André, três netos que adotei de uma vez só. Três afetos que surgem de uma brincadeira, três carinhos, três oportunidade de me tornar mais gente, de fazer mais amigos e de ser um pouco mais feliz.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Casa Grande e Senzala


Meu irmão Raimundo (Mundinho) chegava em casa ao entardecer com o exemplar do jornal O GLOBO - era a melhor hora da tarde. Apesar de ainda não termos luz elétrica, tínhamos lamparinas à querosene, (que nos deixava uma marca meio cinza no nariz), para lermos à noite. Eu sempre corria para o caderno de cultura para ler os quadrinhos, me deliciava com o Brucutu, Fantasma,Tarzan e outros que a minha memória teima em esconder - foi assim que aprendi a gostar de quadrinhos, lendo as tirinhas do jornal.
Meu irmão também era leitor fervoroso da série Edição Maravilhosa lançada por Adolfo Aizen pela Editora Brasil América Ltda, onde encontrávamos clássicos da literatura nacional como O Tronco do Ipê, O Guarani, Iracema, de José de Alencar e clássicos internacionais como Frankestein de Mary W. Shelley, Cyrano de Bergerac de Edmond Rostand, Beau Geste de P.C. Wren, O Pimpinela Escarlate de Baronesa de Orezy e tantos outros.
As leituras destes clássicos em quadrinhos me ajudaram muito a ler os livros originais na época de estudante. Apesar de ler tudo que passa pelas minhas mãos, nunca consegui transitar pelas setecentas páginas de Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre. Somente trechos desta grande obra fizeram parte da minha trajetória estudantil. Mas sempre permaneceu em mim este desejo louco de me enveredar pelas páginas deste clássico da nossa sociologia e somente hoje matei este desejo: acabei de ler Casa Grande e Senzala em quadrinhos, uma edição maravilhosa da Editora Global, uma adaptação de Estevão Pinto com ilustrações do ótimo Ivan Wash Rodrigues. Quem sabe agora crio coragem para ler o orginal...

sexta-feira, 11 de julho de 2008

L’ORATORIO D'AURELIA

Em o Guardador de rebanho, Fernando Pessoa, ou Alberto Caeiro; escreveu qualquer coisa assim, (e que Maria Betânia ha muitos anos atrás declamava em um dos seus Show):
“...Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos,
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.”
E foi assim que vi o espetáculo: “L’ORATORIO D'AURELIA” Como um sonho, um bom sonho onde Aurelia nos leva a viajar por todos os caminhos da ilusão, da magia, da fantasia,do amor... e tudo isso com um gostinho francês (trilha sonora) que nos faz sonhar ainda mais. E termina o espetáculo nos fazendo crer que a ilusão, a magia, a fantasia e o amor, esta dentro da gente como uma locomotiva a viajar. E eu que pensava já ter visto tudo, so consegui gritar: Bravo! Merveilleux!